segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

JUNINHO XIBATOZAN

O nome vale mais que mil palavras. Era tudo de bom na arte de agradar ao sexo frágil. Tinha o que as mais velhas gostavam, o néctar das fêmeas mais maduras, o doce mais gostoso, o bombom delicioso, o vinho servido à temperatura da melhor idade.

Exímio cozinheiro, pé de valsa completo, galante e discreto.

Sabia dar um boa noite à uma mulher carente. Afinal, era a sua única fonte de renda. Mas não gostava de ser chamado de garoto de programa. Definia-se como um animador sexual. Aliás era assim que entitulava o anúncio nos classificados do jornal em que oferecia seus serviços.

Xibatozan na veia. Era o que recomendava para as desiludidas, mal amadas, desvalidas em geral. A caça era nos shoppings. Domingo à tarde, o melhor momento. Não importava peso, cor, tamanho. A dica era o nível de carência estampado no olhar.

Quando sentia firmeza, seguia a vítima pelo shopping inteiro. Era companhia, à delicada distância, para apreciação das vitrines, para troca de olhares no sobe e desce da rolante, para furtivos comentários na livraria, para falsas paradas na praça de alimentação...

Foi assim com esta senhora que cruzou o caminho de Juninho, numa tarde dominical brasiliense, daquelas em que a capital federal vira um imenso azul incandescente, e o céu emenda com a avenida, como se tudo em volta fosse o mar tão distante e impossível e desnecessário.

Isso tudo lá fora, porque aqui dentro do shopping a vida é toda igual: tanto faz Brasília, Recife, Lisboa. É como a vida vazia de quem vive de biscates amorosos feito Juninho e Emerenciana, a tal senhora. A vida no shopping é sem luz natural, ar con-di-ci-o-na-do, onde não chove nem faz sol nem a lua aparece.

Então, ela passa e ele vai atrás. Lança o olhar de esguelha, emenda com o avassalador boa tarde e fica à espreita da colheita. A princípio, Emerenciana não acreditou. Aquilo tudo era muito, muito, muito pro seu quintalzinho septuagenário.

Juninho era assim. Jogava pesado. Às vezes brincavam que era xibatozan na véia. Isso mesmo. Com acento. Mas ele nem estava aí, contanto que deixasse em dia os carnês das Casas Bahia. Era um consumidor contumaz, tv de plasma, dvd's, celulares...

Mas com jeito, sobe aqui, desce ali, e os dois sucumbiram ao calor da paixão à primeira vista. E não fosse o ciúme do motorista de Emerenciana e Juninho teria aplicado a dose de xibatozan ainda naquela noite. Ficou pra depois de muitas sessões na escola de dança que ela financiou pra ele.

Postado por Roberto Borges

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